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Cuidado com a Europa, é frágil!

João Miranda, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa


Talvez numa visão demasiado utópica do projeto europeu e distópica do futuro que nos espera, apresento, aqui, as minhas esperanças da Europa do futuro. Tentarei falar sobre os problemas gerais, especialmente, aqueles que têm sido postos em questão nos últimos anos.

  1. Fronteiras: Com a invasão russa na Ucrânia, o problema dos limites fronteiriços voltou à mesa. A possibilidade de uma adesão rápida para a Ucrânia, coloca em causa uma entrada apressada também para a Moldávia, para a Geórgia e esquece os países já em discussão: Turquia, Macedónia do Norte, Sérvia, etc. Muitas já foras crises europeias causadas por uma fadiga expansionista. No futuro, teremos de pensar melhor o projeto europeu. Afinal de contas, queremos uma união comercial ou uma força identitária? Se a resposta certa for a segunda opção, acredito que não estamos num bom caminho.

  2. Identidade: Embora admire em muito o projeto que está a ser conseguido, não acredito que este consiga durar muitos mais anos, que se apresentam cheios de desafios, se continuarmos no rumo em que seguimos. Por esta altura, teríamos de estar a criar, gradualmente, mais leis que nos unissem e centralizassem o poder em Bruxelas e permitissem uma resposta de defesa única. Recentemente, foi noticiado que o novo governo alemão tem um projeto para criar uma verdadeira União Europeia, um primeiro passo para uma federalização já há muito sonhada pelos alemães. Parece-me um passo pertinente na altura que nos encontramos. Com o tempo, veremos que uma Europa constituída por países independentes, falhará sempre na prontidão das respostas, é preciso alcançar a Europa de Estados confederados. Este tópico vem, em muito, relacionado com o tópico anterior, até porque não acredito que esta Europa Federal conseguisse englobar os países de leste. Não, pelo menos, como estão agora.

  3. Energia: A nossa energia terá de ser verde, isso é algo que todos sabemos. No entanto, a nossa energia tem de ser nossa. Não podemos mais, depois do que aconteceu com a Rússia, confiar em entidades exteriores, que, quando fecham a torneira, fecham-nos a economia. A União Europeia tem de se tornar independente de forças exteriores.

  4. Defesa: O mesmo acontece, na defesa, com a pressão dos Estados Unidos da América na NATO. Embora a guerra na Ucrânia nos tenha demonstrado que a NATO ainda tem um papel no mundo do século XXI, os países europeus nela envolvidos não podem continuar a cair nos caprichos americanos para iniciar atividades bélicas. Acredito que um afastamento parcial à NATO seria a nossa melhor resposta para lidar com o assunto. A união dos exércitos europeus poderia surgir como uma alternativa, já que há muito se fala sobre a criação de um exército europeu.

  5. Direitos Humanos: A União Europeia sobre a qual escrevo é um exemplo na defesa dos Direitos Humanos, devemos continuar esse percurso sem esquecer as nossas degradantes ações durante a crise dos refugiados provenientes dos países do Norte de África e do Médio Oriente. Parece-me que, com os refugiados ucranianos, estamos a conseguir redimir os erros do passado, mas teremos de pensar se isso não está a acontecer pela diferença étnica de uns e de outros. O que me parece um ato de remissão de pecados pode, muito facilmente, tornar-se em mais um ato de racismo estrutural em território europeu.

  6. História Bélica: Não nos podemos esquecer da história bélica, pela qual a Europa foi vítima de duas grandes e violentas guerras. O projeto europeu, tal como está construído, já é um projeto de paz. Temos de fazer os possíveis e os impossíveis para que continue assim. Para isso, é preciso ter cuidado com os partidos extremistas, sejam eles de Direita ou de Esquerda.

  7. Multiculturalismo: A Europa sempre foi diferente e aberta a novas culturas, não façamos esforços para regredir nesse aspeto.

Abordados estes tópicos, desejo relembrar aos não apaixonados pelo projeto europeu, que este é um projeto que durará por muitos séculos. É preciso protegê-lo e isso começa, desde logo, por protegê-lo de novas saídas. O Brexit ainda nos está muito presente. Esta é a Europa que eu espero: aberta, multicultural, unida, ecológica, voltada para o futuro e para os desafios que teremos de enfrentar.




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