A Amazónia Interessa Aos Europeus
- Luís G. Rodrigues
- 30 de set. de 2022
- 3 min de leitura
No dia 2 de Outubro, Domingo, o povo brasileiro é chamado às urnas para decidir quem será o seu novo Presidente da República. Caso nenhum dos candidatos seja eleito no primeiro turno, isto é, se nenhum dos candidatos presenciais obtiver maioria absoluta, os brasileiros serão novamente chamados, no dia 30 de Outubro, a tomar a sua decisão – desta vez certamente definitiva.
O leitor deverá estar a estranhar a introdução: “Então, mas…porquê falar das eleições brasileiras num espaço dedicado à Europa?”.
A questão é absolutamente legítima e pertinente.
Falo, hoje, do Brasil porque, no mundo globalizado em que vivemos, nenhum país vive totalmente isolado; porque, neste contexto, o pensamento meramente baseado no “causa-efeito” fica curto face aos desafios que um mundo conectado impõe. Uma causa pode ter variadíssimos efeitos e os efeitos podem tornar-se novas causas. O caso da inflação, que agora nos afeta, é paradigmático: a subida de preços dos combustíveis leva a uma subida de preços de todos os produtos, nomeadamente, alimentares. Se a dificuldade em comprar estes produtos aumenta, as populações compram e consomem menos, os mais pobres tornam a ser os mais afetados (pois, no seu caso, a perda de poder de compra não se dirige propriamente a serviços de cultura ou lazer, mas alimentares. Sofrem mais porque o seu apertar o cinto é literal: ficam mais magros).
Se a maior parte da população consome menos, há menos dinheiro a circular na economia. Se há menos dinheiro a circular na economia, os negócios e empresas sofrem com a descida da procura. No fundo, tudo está ligado. As democracias liberais, por serem sistemas abertos, têm de lidar com esse facto – para o bem e para o mal.
Ainda assim, o caso concreto que quero hoje trazer para cima da mesa não é o da inflação. É o da Amazónia.
Desde o ano de 2019 – ano em que Bolsonaro tomou posse da presidência brasileira – a desflorestação da Amazónia cresceu 56%, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia (IPAM)1. No que diz respeito a termos concretos, isto significa que 32.740 quilómetros quadrados foram eliminados2.
Mormente, as consequências desta desflorestação, para além de graves, são globais3:
Aquecimento Global;
Perda de biodiversidade;
Doenças zoonóticas;
Foquemo-nos, porém, somente no caso do Aquecimento Global. Ser um problema “global” é óbvio – está no nome. “Mas o que é que a Amazónia tem que ver com isto?” Bem, de acordo com um estudo divulgado na revista Nature Climate Change4, “a floresta amazónica brasileira libertou de volta para a atmosfera 16,6 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono, ao mesmo tempo que absorveu apenas 13,9 mil milhões de toneladas deste composto”5 , entre 2010 e 2019. A partir de 2019, os números são ainda piores:
“A investigação revelou também que a desflorestação quase quadruplicou em 2019 face aos dois anos anteriores — passando de cerca de um milhão de hectares para 3,9 milhões (uma área que equivale quase ao tamanho da Holanda). Isto poder-se-á dever ao facto de o Brasil ter assistido “a um declínio acentuado na aplicação de políticas de protecção ambiental após a mudança de governo em 2019”, explica o INRA em comunicado.”6
Se esta política perigosa de desflorestação continuar – ou seja, se Bolsonaro ganhar a eleição – todo o planeta perde: a temperatura do planeta continua a aumentar, os níveis da água continuam a subir, o problema dos refugiados climáticos aumenta, a inserção social e alojamento destes refugidos criará instabilidade entre as comunidades recetoras e a extrema-direita capitalizará ainda mais da desconfiança perante o outro.
Todos os europeus, neste momento, com isto em mente, devem estar atentos às eleições brasileiras. Entre os dois principais candidatos à vitória, Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), só um deles está verdadeiramente preocupado com o ambiente.
O candidato do Partido Trabalhista (PT) que reúne o apoio formal de nove partidos – Psol, Rede, PSB, PC do B, PV, Agir, Avante, Pros e Solidariedade –, é a opção mais viável para o povo brasileiro e para o mundo.
Por essa razão: atenção, europeus, as eleições no Brasil interessam ao Mundo!
1 Lusa, A. (2022). Desflorestação na Amazónia brasileira cresceu 56,6% no Governo de Bolsonaro, avança Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia. Observador. Obtido 29 de setembro de 2022, de https://observador.pt/2022/02/04/desflorestacao-na-amazonia-brasileira-cresceu-566-no-governo-de-bolsonaro-avanca-instituto-de-pesquisa-ambiental-da-amazonia/
2 Ibid.
3 CORPORATIVA, I. (2020). O desmatamento dispara todos os alarmes na Amazônia. Como podemos pará-lo? Iberdrola. Obtido 29 de setembro de 2022, de https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/desmatamento-amazonas
4 Qin, Y., Xiao, X., Wigneron, J.-P., Ciais, P., Brandt, M., Fan, L., Li, X., Crowell, S., Wu, X., Doughty, R., Zhang, Y., Liu, F., Sitch, S., & Moore, B. (2021). Carbon loss from forest degradation exceeds that from deforestation in the Brazilian Amazon. Nature Climate Change, 11(5), 442–448. https://doi.org/10.1038/s41558-021-01026-5
5 Almeida, F. (2021). Na última década, a Amazónia emitiu mais dióxido de carbono do que absorveu. PÚBLICO. Obtido 29 de setembro de 2022, de https://www.publico.pt/2021/04/30/ciencia/noticia/ultima-decada-amazonia-emitiu-dioxido-carbono-absorveu-1960769
6 Ibid.
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