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Suécia: a Tremer ou a Respirar?

Atualizado: 29 de set. de 2022

A Suécia é uma monarquia constitucional, sendo que o monarca (atualmente o Rei Carlos XVI Gustavo) é o chefe de estado e, tal como acontece em Inglaterra e noutrad monarquias constitucionais, detém funções cerimoniais e representativas. Na Suécia, as eleições nacionais ocorrem de quatro em quatro anos, sendo que as últimas, sobre as quais este artigo se debruçará, ocorreram este mês. Cerca de sete milhões de eleitores distribuem os seus votos pelos atuais oito partidos presentes no Parlamento e por outros vários partidos minoritários1.

O que foi mais surpreendente nestas últimas eleições neste país nórdico foi a capacidade demonstrada por um bloco de direita ter conseguido obter uma margem de votos tão significativa ao ponto de ter condições para derrotar o bloco de esquerda liderado pela entretanto demitida primeira-ministra Magdalena Andersoon. Em oposição aos quatro partidos que apoiaram Andersoon como a pessoa adequada para continuar no cargo de primeira-ministra e que acabaram por ficar com cento e setenta e quatro assentos no parlamento sueco, o bloco de quatro partidos de direita, liderado por Ulf Kristersoon (do Partido Moderados, centro-direita) ficou com os restantes cento e setenta e cinco assentos no parlamento2. Este resultado foi impulsionado pelos melhores resultados obtidos pelo partido Democratas Suecos até à atualidade, com quem os Moderados estão dispostos a comunicar para gerir o executivo.

A Suécia, um país escandinavo habitado por cerca de dez milhões de pessoas, é regularmente mencionada como um exemplo de um país progressista e como um dos países mais felizes do mundo3, pouco atrás de países como a Finlândia e a Islândia. É claro que não faltam circunstâncias de discórdia e de debate quanto ao impacto que um futuro governo apoiado ou mesmo integrando membros da direita populista (ou direita radical), que tem na Suécia o partido Democratas Suecos como seu principal representante, poderá ter na reputação da Suécia na cena internacional, nomeadamente a nível da União Europeia.

Tendo obtido pela primeira vez representação no parlamento sueco em 2010 (com 5,7% dos votos a nível nacional), o partido Democratas Suecos parece estar a suceder nas suas contínuas tentativas de dissociação das suas raízes no movimento neonazi das décadas de oitenta e de noventa do século passado. Como já havia brevemente referido, tal é a reconfiguração da sua imagem pública que o partido Moderados, em 2018, demonstrou-se disponível para cooperar com o partido mais à sua direita4. Já os resultados preliminares haviam atribuído o resultado de 21% do total de votos ao Democratas Suecos.

Para além dos efeitos da crescente influência do Democratas Suecos no cenário políticos sueco e europeu, é também debatido as razões pelas quais este partido conseguiu o atual nível de adesão eleitoral registado. Uma resposta bem simples seria a agitação causada por um nível ascendente de violência armada no país5 e o contributo dado pelo partido na intensificação do debate acerca da imigração. Na verdade, nos últimos anos, a Suécia tem-se relevado muito frágil no que respeita a definições concretas de políticas de imigração e de combate ao crime violento, sendo que outros temas como a subida de preços da energia, as falhas nas escolas e o acesso a cuidados de saúde foram, até certo ponto, secundarizados6 .

A campanha não deixou, aliás, de ser marcada por episódios de violência associados a gangues, uma realidade que os Democratas Suecos nunca deixaram de apontar como uma lacuna de funcionamento da administração pública (na prestação da segurança, um serviço público e indispensável). Deve-nos surpreender que o número de tiroteios fatais cresceu para trinta e quatro nos primeiros seis meses deste ano relativamente aos vinte registados no período homólogo em 20217. Num contexto de epidemia de violência armada a que a Suécia tem vindo a assistir8, é infeliz saber que, num município tão pequeno (com cerca de 38000 habitantes) como Kalmar (no sul do país, na província de Smaland), três pessoas já foram mortas a tiro só este ano9. Num período de oito dias em Maio deste ano, três jovens foram igualmente assassinados a tiro num pequeno bairro de Orebro (também no sul do país, na província de Narke)10. Orebro é um dos sessenta e um espaços, todos com uma proporção elevada de imigrantes, consideradas pelas autoridades policiais como áreas de risco de ascensão da violência de gangues, sendo que foi o próprio governo (então de centro-esquerda) que afirmou que o crime de gangue se encontra associado a uma integração deficiente da comunidade de imigrantes na Suécia11.

Atualmente, a Suécia é uma das sociedades europeias mais multiculturais, sendo que mais de um terço da população sueca nasceu no estrangeiro ou em que pelo menos um dos pais nasceu no estrangeiro12.

Quando sabemos que tanto políticos suecos de esquerda como de direita são da opinião de que existe uma correlação positiva entre o crescimento do crime violento e a imigração em larga escala, que por sua vez originou níveis elevados de segregação étnica nos mercados de habitação e de trabalho, estaremos dispostos a classificar todos aqueles que desafiam o conceito de sociedade multicultural e que recomendam uma menor intensidade dos movimentos migratórios como extremistas?

O que é certo é que Kristerssoon, do Partido dos Moderados, vai fazer tudo para formar governo e que o Democratas Suecos desempenhará um papel crucial, mesmo que acabe por não ficar com nenhum ministério13. Temos que aceitar que o Democratas Suecos é, atualmente, a segunda maior força política da Suécia e que, caso se verifique um consenso relativamente à adesão da Suécia à NATO, à epidemia de violência e à crise energética, o futuro governo poderá funcionar e servir os interesses dos suecos e assegurar a defesa dos valores europeus como a liberdade e a democracia contra o expansionismo russo e a dependência energética relativamente à Rússia.

Temos igualmente de dar uma oportunidade à direita sueca de demonstrar que a cooperação entre liberais, democratas-cristãos, conservadores e nacionalistas é saudável e benéfica numa Europa que terá de rever seriamente as ressalvas quanto à liberdade de circulação de pessoas tanto na UE como entre a UE e o seu exterior.



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