Alface ou Couve de Bruxelas?
- João Miguel Miranda
- 19 de out. de 2022
- 2 min de leitura
Londres está sob duro fogo. A primeira-ministra britânica, Liz Truss, está a passar por uma enorme crise política, que a deverá, certamente, afastar do cargo.
No dia em que escrevo esta crónica, celebra-se o quadragésimo sexto dia da governação de Truss e o cenário não é positivo. Depois dos 10 dias de luto nacional pela morte da Rainha Isabel II, em que a atividade política não aconteceu, Liz chega-se à frente com um plano arrojado de corte de impostos, o maior corte de impostos que algum país viu ser feito de forma repentina. O resultado não poderia ter sido outro se não o que aconteceu: o mercado ficou desregulado, obrigando o Banco da Inglaterra a intervir, na esperança de conseguir atenuar as ondas de choque consequentes deste golpe.
Liz Truss não será a melhor pessoa para nos falar de estabilidade. Na verdade, tenho as minhas dúvidas se a Inglaterra nos poderá falar sobre estabilidade política pós-Brexit. Estas são as consequências que esperam quem deixa um programa estável, com pilares fortes que seguram este ideal basilar contra tudo e todos.
Recentemente, Josep Borell proferiu as seguintes controversas palavras: “A Europa é um jardim e o resto do Mundo, uma selva”. A leitura denotativa cria um sentido de alarme claro, não vá o chefe da diplomacia europeia achar mesmo que a Europa é mais desenvolvida que o resto do mundo e os restantes são cenário de uma sequela do Tarzan, cheio de chimpanzés e chitas a lutarem…temos de ir mais a fundo e, numa leitura conotativa, chegamos à mensagem clara: A Europa é o jardim da diplomacia e da relação inter-governamental e o resto do mundo é paisagem. Todos sonham em ter a sua Europa, mas só a Europa consegue.
Foi decisão dos britânicos e decisão do partido conservador de avançar com a retirada do seu país do jardim do Éden para a selva. Que as consequências sejam claras para a memória futura dos atuais membros e dos futuros que poderão entrar.
Quanto à pergunta-chave desta crónica, tenho a dizer que sempre preferi uma boa couve de Bruxelas a uma alface, mas se a escolha do cardápio for entre Truss e a alface, cá estarei para continuar a velar para que a alface seja de longa validade. E que o Labour ganhe as eleições, que deverão suceder este desgoverno conservador!
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