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Paz Perpétua e a Res Publica

Hoje, Portugal celebra o seu dia da Implantação da República. 112 anos depois, Portugal vive a plenitude da sua representação republicana, como, em geral, é o cenário no resto da Europa. Para mim, a ideia mental de república só é concretizável com uma ideologia pacifista, porque se todos temos as mesmas liberdades e nascemos no mesmo patamar de igualdade, não deverá ser o Estado, que para se defender de um ataque ou para concretizar os seus fins gananciosos, decidirá quem vai ser enviado para os campos de batalha e quem continuará a viver a sua vida. Afinal de contas, existem cidadãos dispensáveis?

Podem-me chamar de ingénuo ou traidor da Pátria, mas eu não acredito no conceito de Nação. Não é o sítio em que, por acaso, nasci, que me vai moldar enquanto pessoa, enquanto ser pensante. Nunca morreria, nem mataria pelo meu próprio país. Nunca. Nunca pegaria numa arma pelo bem estar do meu povo.

Sinto que o ser humano vive, constantemente, num ciclo vicioso sem sentido. Se avançamos para uma sociedade global progressista, temos de ir deixando cair a ideia de Nação. Não estou a dizer que os países não tenham direito a lutar pela sua soberania, mas, se vivêssemos num mundo realmente progressista, estas lutas fazer-se-iam de forma diferente, numa mesa, numa Assembleia, não no campo de batalha.

Obviamente, que toda esta minha ideologia pacifista vem um ponto de vista positivista do mundo. Eu acredito que seríamos capazes, mas ainda não somos. A Paz Perpétua, conceito criado por Immanuel Kant, é possível, sim. A corrida ao armamento pode ser substituída pela corrida ao conhecimento. O fervor por defender a Pátria pode bem ser substituído pelo fervor de pensar a Pátria, que é, na verdade, a melhor forma de a defender, não a deixando parar.

A minha leitura dos últimos dias pode ser muito diferente da de outras pessoas, mas o que eu vejo é, que a ideia de guerra está ultrapassada no século XXI, pelo menos nos países ditos avançados. Até na Rússia, país com tantos, ou pelo menos achávamos nós, nacionalistas patriotistas, a ideia de lutar, matar e ser morto pela Pátria causou o pânico. Milhares fogem agora para os países vizinhos, milhares protestam e são presos.

Isto vem-me provar, que a ideia de lutar por um conceito, que é o de um país, o de pertencer a um país, o de viver dentro de linhas imaginárias, começa a dissipar-se. Hoje, a ideia de pertença já deveria ser mais relacionada ao nível cultural e linguístico e, isso, como sabemos, não se relaciona de forma direta com as nações que temos hoje. Cada país tem, em si, diferentes nações, segundo esta ideia. O sentimento de pertença é o de pertencer ao Alentejo, ao Minho, à Catalunha e, só depois, de pertencer a Portugal, a Espanha, à Rússia. Daí ser um defensor tão agarrado à ideia de uma Europa federalista, porque, para deixarmos cair estas ideias retrógradas de patriotismos de nações, seria necessário, obrigatoriamente, fazer crescer o localismo cultural e/ou linguístico.

Está na hora de avançar para a prática! Está na hora de pousar as armas e avançarmos para verdadeiras repúblicas, para que nenhum cidadão tenha de ser dispensado para lutar e morrer por um conceito meramente mental de Pátria ou Nação.

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