top of page

Candidatura à "presenilência"

A corrida presidencial que se avizinha promete ser muito concorrida por variadas personalidades e, já que todas as semanas parece surgir uma nova opção ao título, pergunto-me onde estará disponível o Google Forms para também me candidatar.

Sobre requisitos mínimos para submeter a candidatura ao emprego, tenho-os a todos. Quer dizer, depende, existem muitas fontes diferentes e já nem sei em quem acreditar.

Por um lado, alguns políticos dizem que as eleições presidenciais também devem estar reservadas a caras novas e jovens - se ainda considerarmos que uma pessoa de 35 anos ainda é jovem, claro. Por outro, a Clara Ferreira Alves diz que o cargo deve estar reservado apenas para pessoas de meia-idade que já viveram o suficiente e foram jantar, entre 15 a 20 vezes ao Cantinho do Avillez com pessoas importantes e ricas, que, no fim, fazem sempre o amável favor de pagar a conta.

A Clara Ferreira Alves deve ser a fonte mais confiável, isso explicaria a razão dos comportamentos recentes do atual Presidente da República, reconhecido pela sua proximidade do público português, pela comunicação acessível com os cidadãos, por ir pagar contas ao Multibanco depois do chumbo de um Orçamento de Estado, mesmo antes de decidir a dissolução do Parlamento e pelos cumprimentos agressivos. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República há já 7 anos, alterou por completo a visão do público português sobre aquilo que um PR deve ou não fazer. Para melhor ou para pior? Isso depende da perspetiva.

Já estamos habituados às lições políticas, sempre que há uma crise no governo. Também estamos habituados aos beijos e às selfies, mas começa-se a delinear um padrão de comportamentos senis em Marcelo, que deveria preocupar qualquer português.

Recentemente, numa viagem de Estado ao Canadá, Marcelo encontrou mãe e filha portuguesas e entre apresentações inofensivas, o Presidente decide comentar, muito impressionado, o decote da jovem adolescente. Não lhe impressionam os números de abusos sexuais na igreja (não seriam números “particularmente elevados”), mas o decote de uma jovem…isso é que não pode acontecer.

Termos um Presidente da República, numa viagem de Estado, a declarar expressões tão ordinárias e reles, deveria causar um maior choque na esfera pública. Acredito que tal não tenha acontecido, porque já não existiam muitas esperanças sobre alguém que considera o abuso de Rubiales “um caso menor” - Marcelo utilizou esta expressão quando estava a comparar o beijo à guerra na Ucrânia, o que também é infeliz e politicamente sórdido.

O Presidente tem um currículo partidário e parlamentar invejável e uma longa carreira de professor universitário. Todos os anos de experiência com palavras dever-lhe-iam ter ensinado que estas têm consequências e, quando mal utilizadas, é necessário um ato de contrição. Cada dia que passa que Marcelo não se desculpa pelo momento inoportuno que teve, é um dia a mais em que atitudes machistas e sexistas como as que Marcelo teve, podem padecer de uma normalização e de uma utilização sem consequências, o que, vindo de uma das mais altas figuras de Estado, é muito perigoso.

A corrida presidencial avizinha-se. Que todos os muitos candidatos aprendam o requisito máximo para o emprego: saber que qualquer ato ou palavra, segue em representação de um país inteiro. Neste caso, por causa de Marcelo, todos nós portugueses fomos comentadores inoportunos de um decote utilizado por uma jovem rapariga, enquanto passeava com a mãe no parque.

3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page