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Empatia Radical

Em tempos de guerra, toda a humanidade perde. Neste conflito israelo-palestiniano, agora intensificado e tornado em guerra aberta, ambos os lados sofreram ao longo de décadas, desde 1948, para ser mais rigoroso: ano em que o Estado de Israel foi criado - uma decisão que pouco teve de consensual entre os estados árabes, o que motivou inúmeras guerras que montaram o palco bélico visto hoje.

Dados das Nações Unidas dizem-nos que, desde 2008 até 2020, já perderam a vida mais de 5000 palestinianos e 251 israelitas: qualquer um consegue perceber a disparidade destes números. Após o fatídico dia 7 de Outubro, já foram contabilizadas 7000 mortes na Faixa de Gaza e 1400 em território israelita.

Na Palestina, o acesso a água, luz, eletricidade, combustível e comida é escasso e mais escasso ficará agora que o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, anunciou que do outro lado do conflito estão “animais humanos” - referindo-se a toda a população palestiniana, o que torna esta acção um collective punishment, ou seja, um crime de guerra se seguirmos o artigo 33.º da Convenção IV de Genebra - que serão cercados, ficando mesmo sem um canal direto de acesso aos bens essenciais para sobrevivência. Contudo, é importante - importantíssimo! - distinguir o Hamas do povo palestiniano. O Hamas não tem os interesses dos palestinianos em mente. Aliás, executa palestinianos e usa-os como escudo nos ataques absolutamente desumanos que perpetra contra o estado israelita. Desde 2006, ano em que o Hamas toma poder na Faixa de Gaza, que a solução de dois estados foi pelo cano abaixo, visto que o objetivo deste movimento não é a paz nem a segurança do seu povo, mas sim a destruição de Israel.

A esfera pública, suscetível à polarização excessiva dos tempos que vivemos, está, em boa parte, infelizmente, a colocar a situação - a guerra, sejamos claros - em dois pontos opostos: ou se é Pró-Israel ou Pró-Palestina, não há nada no meio, não há complexidade, não existe nenhuma outra opção senão escolher uma das trincheiras.

A União Europeia, para meu desagrado, encaminhou neste trilho. Aquela que devia ser a voz do humanismo, do valor da vida e da dignidade, está a passar paninhos quentes nas costas do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que há anos que dá poucas indicações de querer assegurar a segurança dos inocentes que vivem na Palestina, antes pelo contrário, tem espalhado o terror naquela região. O Estado de Israel, porém, tem uma responsabilidade diferente dos terroristas do Hamas precisamente por ser um Estado, uma democracia. E as democracias respondem a leis, nomeadamente a lei internacional.

Era útil para a resolução do conflito que a UE pudesse, como tem feito o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamar à razão ambos os lados; pugnar por uma solução de cariz humanitário que poupe o maior número possível de vidas inocentes. Mas não. Em vez disso, tanto Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, e Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, têm sido ávidas defensoras do direito de Israel se defender - que tem, claro - sem se pronunciarem claramente e sem rodeios sobre a urgência de salvar as vidas de palestinianos e do direito que estes também têm a sobreviverem. Em vez de fechar os olhos ao cerco feito à Palestina já aqui descrito, ao bombardeamento de casas, à utilização de bombas de fosforo branco, a União Europeia devia ser a voz da clarividência e não adepta de uma das trincheiras.

Nestes momentos, pede-se uma empatia radical. Uma empatia que ultrapassa a irracionalidade da guerra, da vontade de reagir a quente contra tudo e todos. É assim que me sinto: um autêntico empático radical que valoriza da mesma forma uma vida israelita ou uma vida palestiniana; que valoriza da mesma forma os direitos dos israelitas e os direitos dos palestinianos. É tempo de salvar vidas. É tempo de olharmos para o outro como um irmão e não como um inimigo. Lutemos contra o terrorismo sem nos tornarmos terroristas. Sejamos radicalmente humanistas.

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