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Liz Truss Provou que o Liberalismo Não Faz Falta

O acontecimento político mais previsto, mais esperado, mais mediatizado do último mês aconteceu: Liz Truss demitiu-se e a alface ganhou.

A agora ex-primeira-ministra britânica esteve no poder durante 45 dias – para 80% dos britânicos, 45 dias a mais.

Neste curtíssimo espaço de tempo, Liz Truss conseguiu prometer fazer história com aquilo que achou ser a bala de prata para os problemas do seu país – redução abrupta de impostos em plena época inflacionária – ao mesmo tempo que se tornava uma piada recorrente nas redes sociais, nomeadamente no Twitter, onde a indústria de “memes” navegou numa maré de prosperidade contrariamente a todo o resto do mundo.


Logo no dia em que a militante conservadora apresentou o corte mais radical de impostos que o Reino Unido já viu desde 1972, o mercado desconfiou; tanto desconfiou que a libra desvalorizou de imediato face ao dólar para valores abaixo de 1,11$ pela primeira vez desde 1985 (durante o governo de Margaret Tatcher).


Com os cortes nos impostos propostos no “mini-orçamento” apresentado, estimava-se uma perda de 43 mil milhões de libras para os cofres britânicos.


O putativo corte que mais popularidade negativa arrecadou (e que depois foi anulado devido às justas críticas feitas até pelo FMI) foi a possível extinção do imposto de 45% sobre rendimentos anuais superiores a 150 mil libras colocado em prática no ano de 2010 – na altura, o imposto era de 50%, mas o governo de David Cameron baixou o valor em 5% no ano de 2013 – durante um governo do Partido Trabalhista inglês.


Liz Truss quis provar que a denominada “trickle-down economics” funciona, mesmo depois das várias experiências falhadas – no governo de Ronald Reagan e de Margaret Tatcher, por exemplo – e dos inúmeros estudos que comprovam a ineficácia da ideia de que cortes nos impostos para os mais ricos beneficiam os mais pobres porque “o dinheiro acaba por ir para as bases”. Não é verdade:

A London School of Economics report by David Hope and Julian Limberg examined five decades of tax cuts in 18 wealthy nations and found they consistently benefited the wealthy but had no meaningful effect on unemployment or economic growth


Etebari, M. (2003). Trickle-Down Economics: Four Reasons Why It Just Doesn’t Work. United for a Fair Economy. Obtido 21 de outubro de 2022, de https://www.faireconomy.org/trickle_down_economics_four_reasons


Complementarmente, convém ainda mencionar que a redução de impostos para quem mais fatura não resulta num posterior aumento de salários ou num aumento de postos de trabalho.


Etebari, M. (2003). Trickle-Down Economics: Four Reasons Why It Just Doesn’t Work. United for a Fair Economy. Obtido 21 de outubro de 2022, de https://www.faireconomy.org/trickle_down_economics_four_reasons


Acreditar – e sim, apenas uma grande crença no capitalismo pode levar alguém sério a apostar as suas fichas nesta política económica – que as grandes empresas (focadas em gerar grandes lucros) têm ou sentem algum tipo de compromisso para com a economia é pura ilusão. Acreditar que a perspetiva economicista de players de um mercado neoliberal pode ter algum tipo de moralidade é ingénuo.


Uma grande parte do que faz uma economia capitalista liberal resultar é o fator “incentivo”. Coloco, então, a questão: qual é o incentivo de uma grande empresa que está a lucrar e viu os seus impostos reduzidos para aumentar salários? Ou criar mais postos de emprego? Ou distribuir bónus? Se tudo está a funcionar porquê colocar em risco a competitividade da empresa? Porquê colocar em risco os lucros e afugentar acionistas?


Por vezes custa-me dizer isto, contudo, parece que a Esquerda compreende melhor o capitalismo que a Direita.


É tempo do Labour tomar as rédeas do Reino Unido.


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