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Energia Ibérica

Na passada semana o presidente da República Francesa – que insiste em figurar em todos os meus textos – cedeu à demorada pressão dos primeiros-ministros ibéricos, António Costa e Pedro Sánchez, permitindo o avanço do projecto de um gasoduto ibérico que ligará o Atlântico e o Mediterrâneo ao centro e norte da Europa.

Os principais obstáculos à concretização deste projecto tinham que ver com preocupações do governo francês em torno do impacto ambiental que tal infra-estrutura implicaria. Preocupações, ao que tudo indica, ultrapassadas com o compromisso de transição para energia renovável, nomeadamente hidrogénio, e com a alteração no trajecto do gasoduto, evitando-se a travessia dos Pirenéus. Ainda que a ligação entre Espanha e França se preveja resolvida e tudo aponte para a realização do projecto, há várias questões a levantar. Em primeiro lugar importa saber, evidentemente, os resultados dos estudos de impacto ambiental – que espero mais céleres e conclusivos que os do malogrado aeroporto lisboeta – e, então, só em cima desses se poderá trabalhar, no que deverá ser um trabalho de conjunto. Além do relatório de impacto ambiental, importa conhecer os custos de uma obra de tal envergadura, agora com um troço marítimo. Por fim, é preciso debater a gestão e manutenção da infra-estrutura.

Ora, todos estes pontos devem, a meu ver, estar bem esclarecidos antes da empreitada começar. É preciso um avanço unilateral que permita uma satisfação sustentável das necessidades energéticas europeias. A energia é um tema fundamental para o mundo contemporâneo. Todos precisamos dela sobre as suas mais diversas formas – eu próprio não poderia escrever-lhes sem electricidade – e hoje sabemos bem os problemas que a dependência energética levanta.

Posto isto, pergunto: não deveria a União Europeia estabelecer novas metas de sustentabilidade energética, procurando criar políticas integradas de produção e gestão energética? Não deveria procurar maximizar o aproveitamento das energias verdes e estimular a investigação em seu torno de modo a optimizar a sua produção? Não se deveria incentivar – talvez até fiscalmente – a prática de uma utilização mais sustentável da energia? No fundo, todas questões a que urge responder.


Não desvalorizo as necessidades energéticas em que muitos países se encontram, mas receio bem que este gasoduto ibérico, que tanto anima o senhor primeiro-ministro António Costa, não seja mais um ‘Montijo’, por outras palavras, receio que se vá despender de uma quantia avultada de recursos, até mesmo de energia, para se construir uma infra-estrutura que decorre das pressões da guerra que lavra na Ucrânia e que não mais fará que satisfazer as necessidades de curto e médio prazo.

Sumariamente, este projecto, encabeçado pelos primeiros-ministros ibéricos, levanta mais questões do que apresenta respostas. Mas duas coisas são certas: primeira, o gás não pode ser entendido como uma solução a longo prazo; segunda, para que supram as necessidades energéticas europeias são precisas políticas de conjunto. Oxalá o hidrogénio venha a tomar o papel principal na história do gasoduto ibérico!

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