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O país está a arder

O que parecia uma terça-feira normal, de sol, no meio de tantos dias de chuva, transformou-se, na nossa opinião, numa das maiores polémicas no panorama político português.


Esta investigação pode parecer repentina, no entanto, demonstra uma enorme falta de interesse político num país estável, que prefere benefícios financeiros a curto prazo ao invés de procurar fazer política a pensar no futuro: uma política sedimentada, com construções sólidas, para que nada sucumba ao primeiro abalo de terra.


Queremos começar por saudar o Ministério Público, instituição tão importante na luta anticorrupção por ser apartidária e longínqua dos corredores de São Bento e Belém. A sua existência comprovou-se, uma vez mais, urgente.


É de saudar, apesar de tudo, que António Costa tenha tido a sensatez de pedir a demissão quase imediata ao Presidente da República, de modo a não agravar - ainda mais… - a boa imagem que a República Portuguesa deve ao respeito pelas instituições democráticas, separação de poderes e, em última instância, pela credibilidade política da Democracia.


A falta de uma política a longo prazo já criticada por nós noutros artigos vai agora revelar-se um autêntico calcanhar de Aquiles para o Partido Socialista. Esta falta de projeto nacional resultou numa governação à deriva que se consubstanciou, por vezes, em vários toques de Midas ao contrário: aquilo em que o PS tocava parecia transformar-se não em ouro, mas em mais dificuldades, muito por culpa de uma indefinição estratégica - totalmente intencional, diga-se - que pretendia apenas paralisar o Partido Social-Democrata: eleitoralmente, foi muito proveitoso (até brilhante, visto que resultou numa maioria absoluta), já no que concerne à necessidade urgente de reformas de que o nosso país padece, ficou aquém. Os anos da Geringonça foram, possivelmente, devido às normais pressões constantes do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português, os últimos anos de mudança substancial.


O futuro ainda é incerto. O Presidente da República ainda necessita de tomar uma decisão política sobre o Governo e sobre o atual Parlamento, apesar da dissolução ser o cenário mais provável. Isto traz-nos dois problemas: primeiro, coloca as eleições legislativas muito próximas das eleições europeias, o que pode provocar fadiga eleitoral na população portuguesa; o que nos leva ao segundo ponto, que é a subida exponencial da extrema-direita, especialmente, depois de um caso de corrupção a tão alto-nível. A utilização desgastante da retórica “a democracia está em risco, é preciso votar na estabilidade”; “não passarão”; “a extrema-direita tem de ser parada” sem conteúdo programático que apele ao povo, não vai chegar para disputar as eleições europeias e muito menos as legislativas.


Ambos os cenários preocupam-nos muito e devem estar na cabeça do Presidente antes de tomar qualquer decisão. Há dois aspetos importantes a mencionar: a justiça portuguesa voltou a não falhar e vem demonstrando, nos últimos anos, que ninguém, nem mesmo o primeiro-ministro, está acima da lei.



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