top of page

Os caminhos de Ferro

Hoje venho falar-lhes de comboios. Escrevo sobre este assunto motivado pela

triste constatação de que é, hoje, impossível chegar-se a Santa Apolónia e tomar-se um

comboio par Paris. Aliás, para Paris ou para qualquer outra cidade europeia. Até há pouco

tempo mantinha-se a ligação com Madrid, agora nem isso. Como se pode justificar, à luz

da razão, o sucessivo e continuado desinvestimento na ferrovia? Como?


O comboio é, sem dúvida, o meu meio de transporte predilecto. É seguro,

ecológico, pode ser rápido, pode ainda ser económico, mas acima de tudo é confortável.

Ao contrário do avião ou do automóvel não nos prende no assento, permite-nos circular,

permite-nos estar de pé, permite-nos uma envolvência singular com a paisagem. Assim

sendo, por que razão não se encontram já todas as capitais europeias ligadas pelo

comboio? Bom, a verdade é que o caminho existe. E tanto existe que serviu durante

décadas os que com malas de cartão e alguma esperança deixaram Lisboa em busca de

melhores vidas. Ora, se existem os meios, o que falta? Pois bem, falta o interesse.


Esta falta de interesse tem sido pública, mas também particular. Pública, na

medida em que cabe aos governos criar e alimentar as estruturas necessárias a uma rede

e a um serviço de qualidade. Particular, na medida em que as empresas não têm procurado

a ferrovia enquanto rede de comunicação e circulação de capitais. Não quero dizer que

esta realidade é transversal a todos os países europeus, porque não é. Mas acho criticável

a inexistência de um plano director comum, estabelecedor de directrizes e capaz de

constituir uma rede ferroviária integrada.


Se um dos principais benefícios da União Europeia é a mobilidade, então que o

comboio seja preponderante nesse campo. Um investimento nos caminhos de ferro

europeus representaria um consequente alívio do tráfego aéreo, o que não só seria

benéfico ambientalmente, como também logisticamente. Permita-se a aproximação dos

povos através do comboio, à semelhança do que aconteceu nos séculos XIX e XX, mas,

agora, com mais eficiência.


Em suma, o comboio é um meio de transporte ideal para longas distâncias, dados

o seu conforto e os horizontes da sua eficiência. É, também, o meio através do qual a

mobilidade europeia pode melhorar e tornar-se mais ecológica. Para isto, é preciso que a

União Europeia defina metas e que apoie os estados-membros nos desenvolvimentos das

suas ferrovias e é preciso que a sociedade civil tome consciência das vantagens deste

meio, passando a preferi-lo em detrimento dos demais. Vejo o comboio como o transporte

da Europa. Faço, portanto, votos de que em breve se possa comprar em Santa Apolónia

um bilhete de comboio para a Gare d'Austerlitz.

Comments


bottom of page